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Diabetes durante a gestação: uma ameaça à saúde da mãe e do filho

Geral

30.03.2015

Diabetes gestacional, enfermidade considerada uma das complicações mais comuns da gravidez. O diabetes é uma condição de saúde em que os níveis de açúcar (glicose) no sangue é muito alto. Um hormônio produzido pelo pâncreas, denominado insulina, ajuda o organismo a transformar a glicose obtida por meio da alimentação em energia. Durante a gestação, o corpo pode não ser capaz de produzi-la em quantidade extra para atender às demandas desse período, situação que desencadeia o problema que, devidamente controlado, desaparecerá após o parto. As mulheres com maior risco para a patologia são as que estão acima do peso, possuem histórico familiar ou já foram diagnosticadas em gestações anteriores. Cada caso deve sempre ser avaliado por um especialista, mas há formas de prevenir e controlar tal situação e elas incluem mudanças na dieta e práticas corporais.
O diabetes, caracterizado pelo aumento do nível de glicose no sangue, é uma doença silenciosa que atinge 327 milhões de pessoas no mundo, segundo a International Diabetes Federation. O agravante é a estimativa de que 179 milhões dessas pessoas ainda não foram diagnosticadas com o problema, pois a ausência de sintomas é uma de suas características.
No Brasil estão 14 milhões de pessoas com a doença e 1/3 desta população não sabe de sua existência, segundo a Sociedade Brasileira de Diabetes (SBD). Enquanto ela age sem chamar a atenção, danos podem ser causados a partes vitais do corpo, como o coração, os rins, as artérias, os nervos e os olhos.
Durante a gravidez, que é um dos períodos mais emblemáticos na vida de uma mulher, o diabete também pode surgir e, por isso, diversos cuidados devem ser tomados para que ele não faça estragos na saúde da futura mamãe e do bebê que está para chegar ao mundo.
O endocrinologista e diabetólogo Luiz Antônio Granja, do Instituto do Coração (Incor), da Universidade de São paulo (USP), esclarece que qualquer mulher pode desenvolver o diabetes gestacional, entretanto, existem fatores que potencializam o risco. “Entre eles estão a obesidade, a gravidez tardia (acima dos 35 anos) ou com ovário policístico não tratado, diabetes em gestação anteriores ou quando há histórico em familiares de primeiro grau”, cita.
Recursos para reverter o quadro
O Ministério da saúde informa que a patologia em grávidas no Brasil gira em torno de 7%. Segunda Lenita Zajdenverg, médica coordenadora do Departamento de Diabetes e Gravidez da Sociedade Brasileira de Diabetes (SBD), um estudo de década de 1990 constatou, também, que cerca de 7% das mulheres brasileiras desenvolviam diabetes gestacional.. “Este número deve ter se elevado ao longo destes anos, seguindo uma tendência mundial, devido ao aumento do peso da população femininas e às gestações tardias”, avalia.
Como alerta Belmiro Gonçalves Pereira, diretor da Divisão de Obstetrícia do Hospital da Mulher Prof. Dr. José aristodemo Pinotti, da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), é importante rastrear o problema e, uma vez diagnosticado, são urgentes medidas como dieta e exercícios controlados. “Caso não se consiga o controle metabólico ideal com estes recursos, é preciso intervenção medicamentos”, completa.
Afinal, o que é a diabetes gestacional?
Durante a gestação, diversas transformações acontecem naturalmente no corpo da mulher. Fica visível, por exemplo, o aumento dos seios e do quadril, mas nem tudo o que acontece pode ser percebido por quem observa de fora a futura mamãe. As vezes, nem mesmo a gestante se dá conta de alterações que podem afetá-la.
Neste período tão especial, também ocorrem adaptações na produção hormonal para permitir que o bebê se desenvolva. É da placenta que surgem hormônios capazes de reduzir a ação da insulina, o líquido que tem função de distribuir a glicose, que é o açúcar, pelo sangue de todo o corpo. “Em alguns casos, a mãe não consegue produzir insulina suficiente para compensar a produção de hormônios da placenta, que fazem aumentar a glicemia”, explica Jean Carl Silva, médico coordenador do serviço de gestação de alto risco da Maternidade Darcy vargas, de Joinville (SC), e professor de obstetrícia da Universidade da Região de Joinville.
Como o pâncreas, que tem a função de ativar a produção de insulina, não consegue aumentar seu trabalho, os níveis de glicose ficam elevados. Eis, então, o diabetes gestacional, uma doença que afeta pelo menos 7,6% das grávidas, de acordo com o Ministério da Saúde (MS), que contabilizou casos ocorridos com mulheres com mais de 20 anos atendidas pelo Sistema Único de Saúde (SUS).
Mas a prevalência do problema pode ser maior. Isso porque, segundo o MS a pesquisa Vigilância de Fatores de Risco e Proteção para Doenças Crônicas por Inquérito Telefônico (Vigitel) mostrou aumento no percentual de pessoas que declararam ter recebido diagnóstico de diabetes, passando de 5,5% em 2006 para 6,9% em 2013. Especialista acreditam que a incidência da doença na versão gestacional também cresceu.
Doença assintomática
Para as mulheres que não desenvolvem a patologia, o pâncreas reage ao aumento de hormônio, sintetizando mais insulina, e tudo se normaliza. Quando o órgão não dá conta do recado, os níveis de glicose ficam elevados, porém, sem fazer alarde.
Segundo Lenita Zajdenverg, geralmente os sintomas da patologia e de suas complicações só aparecem quando os níveis de glicose estão muito altos ou se este aumento de açúcar no sangue permanecer por períodos prolongados. “Níveis de glicose não tão elevados não provocam qualquer sintoma, mas já fazem aumentar o risco de complicações para o bebê e para a gestante”, explica.
O endocrinologista e diabetólogo Luiz Antônio Granja, do Instituto do coração (Incor – SP), explica que no período que vai mais ou menos da 24ª a 30ª semana de gestação, que acontece na placenta a produção de hormônios que atuam também no metabolismo da glicose. É nessa fase que precisa ser feito o exame de sangue para constatar se há hiperglicemia, o excesso de glicose. “Se a mãe já apresenta hiperglicemia antes dessa fase é porque ela já era diabética antes da gravidez, mesmo que não soubesse disso”, alerta.

Consequências perigosas
A constatação de diabetes durante a gravidez requer uma série de cuidados com a alimentação e, em alguns casos, medicações são necessárias para reverter ou controlar o quadro. Na mulher, os níveis elevados de açúcar no sangue podem levar ao aparecimento de infecções urinárias, hipertensão e o crescimento exagerado do abdome. “Há o risco destas mulheres se tornarem diabéticas ao longo dos anos subsequentes à gestação”, explica Lenita.
Os bebês também não passam imunes. Como se desenvolve sob o regime de grande quantidade de açúcar no sangue, que passa pela placenta, o crescimento é acelerado sem o correspondente amadurecimento. São recém-nascidos grandes, com imaturidade dos órgãos e que podem vir ao mundo prematuros. Há chances de desenvolverem outras complicações do metabolismo como a icterícia neonatal precoce (é a coloração amarelada da pele e mucosas causada pela deposição de um pigmento existente no sangue, chamado bilirrubina), a hipoglicemia (níveis muito baixos de açúcar no sangue) e hipocalcemia, que é a deficiência de cálcio”, esclarece Belmiro Gonçalves Pereira da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp). “A hipoglicemia nos primeiros dias de vida pode deixar sequelas neurológicas se não tratada rapidamente”, completa Lenita Zajdenverg, da SBD.
A importância do acompanhamento médico
Para que a gestação se transcorra de maneira segura, o acompanhamento médico é essencial. Logo que se tenha em mãos o exame Beta HCG, que confirma a gravidez, deve acontecer a primeira visita ao obstetra para começar o pré-natal. Muitos exames são pedidos, como hemograma, tipagem sanguínea, sorologia para hepatites e sífilis, HIV, urina, ultrassonografias e glicemia de jejum, que verifica o diabetes. “A dosagem da taxa de glicose no sangue já deve ser solicitada na primeira consulta para todas as gestantes, com ou sem fatores de risco, como obesidade e histórico familiar”, ressalta o médico Belmiro.
Uma nova pesquisa da doença se faz necessária no sexto mês. “A partir da 24ª semana todas as mulheres devem realizar um teste de tolerância à glicose. Com ele, são obtidas as medidas do açúcar no sangue em jejum e com sobrecarga de glicose por via oral após a ingestão de um líquido açucarado”, esclarece a médica Lenita.
Composto por três coletas de sangue, sendo a primeira em jejum de oito horas e as duas seguintes, uma e duas horas após a tomada da glicose, o que pode causar enjoo e um pouco de fraqueza. Este exame não é dos mais fáceis, mas jamais deve ser ignorado. Segundo Lenita, caso se confirme o diabetes, a gestante precisa fazer o controle da glicose no sangue antes e após as refeições, monitorar o ganho de peso e, através de ultrassonografia, o médico irá avaliar o crescimento do bebê.
Prevenção e controle do diabetes na gravidez

Ao engravidar a mulher é aconselhada a fazer alguns ajustes em seu estilo de vida para que tenha uma gestação tranquila e para o perfeito desenvolvimento de seu bebê. Da mesma forma como se faz necessário ingerir alimentos leves a cada três horas, deixar de lado, cigarro, bebidas alcoólicas, energéticos e evitar frituras, refrigerantes e carnes e peixes crus, é preciso acompanhar de perto todas as mudanças no organismo recorrentes deste período.
O rastreamento do diabetes gestacional é um dos cuidados fundamentais, mas tão importante quanto a atenção para seu possível aparecimento é agir preventivamente, mantendo alimentação saudável e balanceada e praticando atividades físicas com moderação, respeitando as restrições que a fase impõe. “A prevenção deveria fazer parte de todo atendimento em saúde. Sabe-se que a redução do peso, a melhora nos hábitos alimentares e a eliminação do tabagismo, assim como a consulta pré-concepcional direcionada aos distúrbios alimentares e ao controle do peso, podem reduzir os riscos inerentes à associação do diabetes à gestação”, afirma o ginecologista Belmiro Gonçalves, da Unicamp.
Ele ressalta ainda que uma vez diagnosticada a doença, é preciso intervir para amenizar os efeitos indesejáveis. “Antes da gravidez estas intervenções podem ser mais lentas e programadas sem interferir no desenvolvimento fetal”, diz. Por isso, dar mais atenção ao peso vai além de questões estéticas.
Como lembra o endocrinologista e diabetólogo Luiz Antônio Granja, Incor – SP, enquanto alguns fatos são incontornáveis quando a gestação já está em curso, como a genética, a gravidez acima de 35 anos, parentesco de primeiro grau com a doença e a presença da diabete em gestação anterior, outros, como a maior atenção à obesidade, podem ser mudados imediatamente. “A grávida obesa tem de ter controle máximo sobre o peso. Não pode ganhar mais de sete quilos durante toda a gestação (o recomendável para mulheres de condição metabólica normal é de 10 a 12 quilos). Se aumentar o peso acima disso, terá maior risco de ter diabete gestacional, mesmo sem os fatores que não podem ser mudados, como a genética”, esclarece.
O peso da hereditariedade
Qualquer mulher pode ser acometida pela diabetes enquanto estiver gerando um filho. No entanto a hereditariedade pesa de forma expressiva.”Isso significa que histórico familiar da doença, principalmente nos pais e irmãos, faz aumentar na futura mamãe o risco de apresentar diabetes gestacional”, diz a endocrinologista Lenita Zajdenverg.
Quando a mulher teve o problema na primeira gravidez também ampliam as chances de ter novamente em futuras gestações. “Entretanto, o risco pode ser reduzido desde que as condições predisponentes como a obesidade, sedentarismo, maus hábitos alimentares e de fumar sejam corrigidas”, diz o médico Pereira. Segundo ele, é importante lembrar que a gravidez produz hormônio que podem estar relacionados ao desenvolvimento da doença e que vão ser produzidos em todas as gestações. “Daí a probabilidade de ocorrência em gestações futuras ser grande”, explica.
O especialista granja acrescenta que cerca de 90% das mulheres que já tiveram diabetes gestacional têm chance de ter o distúrbio novamente numa próxima gravidez. Além disso, 40% dessas mulheres – ou seja, quatro entre 10 – tornam-se diabéticas no prazo de cinco a 20 anos depois do parto. “Como essa incidência é alta, a mulher deve continuar o acompanhamento após o parto, mesmo que já não apresente mais a doença”, aconselha.
Ele explica também que, mesmo depois da cessação da doença, que acontece sempre após 24 horas após o parto, aproximadamente seis meses depois do nascimento do bebê, a mãe deve se submeter novamente ao teste de tolerância de glicose. “Se tudo estiver normal, menores são as chances de ela vir a desenvolver o diabetes nesse prazo de cinco a 20 anos após o parto”, completa.
Gestação de alto risco
A hiperglicemia faz aumentar a chance de a mãe desenvolver cetose, ou seja, o organismo começa a consumir a gordura do corpo para produzir energia. Eleva-se também o risco de descompensação da glicemia com picos e baixas preocupantes e recorrentes no nível da glicose no sangue. “Esse desbalanço do metabolismo da glicose leva à perda de peso importante na grávida e ao alto risco de complicações tanto para a mãe quanto para o bebê”, enfatiza o diabetólogo do Incor.
De acordo com ele, para a mulher aumenta a probabilidade de ter as complicações vasculares do diabetes, além de ser maior as chances de ter hipertensão, tanto na sua forma convencional, quanto aquela mais grave, que ocorre a partir da 20ª semana de gravidez e é conhecida como eclâmpsia. “Cerca de 10% a 15% das gestantes com diabetes gestacional desenvolvem esse tipo de hipertensão mais grave, que pode levar à morte e ao acidente vascular cerebral”, alerta.
O diagnóstico da doença faz com que a gestação seja considerada de alto risco e, por isso, a futura mamãe precisará ter um acompanhamento médico mais cauteloso. Outro perigo é quando o problema não é descoberto. “Quando não tratado, está associado ao risco maior de complicações, como traumatismo na hora do parto por ter peso excessivo, partos prematuros e, mais tardiamente, obesidade e diabetes ao longo da vida”, comenta a endocrinologista Lenita.
Mulher já diabética
Na mulher que já tinha o diabetes antes de engravidar e que desconhecia a sua condição ou que mantinha a doença descontrolada, o risco de complicações é ainda maior, de acordo com o diabetólogo Luiz Antônio Granja, do Incor. “Isso porque o organismo que está mais desgastado pelo diabetes não tratado ou tratado de forma inadequada, sofre ainda mais com a sobrecarga da gestação”, esclarece.
Cuidados com o bebê
Além de poder nascer com peso e tamanho acima da média, que é a chamada macrossomia, o bebê pode ter hipoglicemia, a queda brusca dos níveis de açúcar no sangue, nos primeiros dias de vida. “Em casos extremos pode levar à morte do recém-nascido”, afirma Luiz antônio Granja, do Incor. Porém, no momento do parto não é preciso nenhum cuidado extra com a criança, segundo a pediatra Renata Araújo Monteiro Yoshida, da Unidade de Terapia Intensiva Neonatal do Hospital Israelita Albert Einstein (SP). “O recém-nascido deve fazer a transição para a vida extrauterina de forma natural, mas como ele tem maior chance de apresentar hipoglicemia, o aleitamento materno precisa ser estimulado e iniciado preferencialmente na primeira hora de vida”, afirma. Outro procedimento necessário é o monitoramento da glicemia capilar nas primeiras 48 horas de vida, depois é vida normal. “Os cuidados após a alta hospitalar são os mesmos que devem ser dispensado para qualquer recém-nascido”, reforça Renata de Araújo.
Como o diabetes gestacional pode afetar o bebê

– Com o diabetes gestacional não estabilizado, o bebê tem o peso e tamanho bem acima da média, o que costuma exigir o parto cesariana.
– Logo após o nascimento, por estar acostumado aos níveis elevados de insulina no organismo da mãe, o bebê também pode ter queda da glicemia em seu sangue o que, em casos extremos, pode levar à morte.
– A criança também tem maior propensão a desenvolver diabetes ainda na infância ou na adolescência e mais chance de ser obeso ou de ter síndrome metabólica quando adulto, elevando seu risco de doenças cardiovasculares.
Níveis glicêmicos aceitáveis
95 miligramas por decilitro é o nível glicêmico máximo que uma grávida com diabetes gestacional em tratamento pode apresentar em jejum. Depois das refeições, o nível deve ser menor do que 120 miligramas por decilitro. Em uma pessoa não diabética, os níveis são de 100 miligramas no jejum e de até 140 miligramas após a alimentação.

Reprodução: Ler Saúde