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Diagnóstico precoce pode salvar vida de mulheres com câncer de mama

Geral

01.10.2015

Mesmo com todos os avanços da medicina, muitas mulheres ainda associam o câncer de mama a imagens de sofrimento, como a perda dos cabelos e a mutilação dos seios. No entanto, ser diagnosticada com a doença atualmente não significa receber uma sentença de morte, como pode ter sido a realidade de algumas décadas atrás. Mais que as alternativas de tratamento humanizado que vêm sendo aos poucos disponibilizadas para estas pacientes, há, também, muita esperança no mundo de quem tem câncer de mama.

Quando diagnosticada no início, a doença tem 90% de chances de cura — dado reconfortante em um cenário onde eram previstos, para 2014, mais de 57 mil novos casos de câncer de mama identificados no Brasil, de acordo com dados do Instituto Avon.

Em um panorama mundial, conforme aponta um levantamento do ano passado feito pelo Inca (Instituto Nacional do Câncer), os números do câncer de mama chegaram a 1,67 milhões de novos diagnósticos em 2012, definindo-o, assim, como o tipo de câncer que mais acomete as mulheres em todo o planeta, seja em países em desenvolvimento ou também nos desenvolvidos.

A doença ainda carrega uma força letal principalmente por conta da detecção tardia. Só no Brasil, o câncer de mama é responsável por 2,5% das mortes femininas, com um total de 12 mil vítimas anuais. Muitos destes casos extremos talvez pudessem ter sido evitados se tivesse havido, justamente, o diagnóstico precoce, especialmente com o rastreamento mamográfico — a popular mamografia —, que tem o poder de reduzir em até 30% a mortalidade das pacientes.

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Para se ter uma ideia da importância do tempo quando se fala em câncer de mama, vale ressaltar que sua reincidência (ou seja, suas chances de “voltar” ao organismo) é de apenas 0,2% em mulheres que identificaram a doença rapidamente. Naquelas que demoraram para receber o diagnóstico, este número sobe para 80%, conforme explica o médico José Luiz Bevilacqua, diretor do núcleo de mastologia do hospital A.C. Camargo, em São Paulo.

Para ele, ao contrário do que ele define como uma percepção popular comum de que cada vez mais mulheres mais jovens desenvolvem câncer de mama, a doença registraria um aumento de incidência apenas “discreto”.

— Não há uma epidemia de câncer de mama em jovens. O que há é um crescimento pequeno nas últimas décadas e de maneira geral. São mais pessoas com câncer, mas é apenas um pouco a mais. A percepção vem do fato de que temos mais maneiras de diagnosticar, e as pessoas estão mais alertas. Talvez fosse algo subnotificado.

Coordenadora do Núcleo Mama do Hospital Moinhos de Vento, em Porto Alegre, e presidente da Femama (Federação Brasileira de Instituições Filantrópicas de Apoio à Saúde da Mama), Maira Caleffi discorda. Para ela, há, sim, um incremento na última década de casos de câncer de mama em faixas etárias pouco afetadas no passado.

— É uma tendência mundial. Aqui no Brasil, a gente percebe que há pessoas entre 30 e 40 anos mais acometidas do que antigamente. Ainda não é alarmante, mas existe.

Embora com visões diferentes, os dois médicos são unânimes quanto à importância da observação atenta dos sintomas que podem levar a um diagnóstico certeiro, capaz de salvar a vida da paciente. Isso especialmente em idades às quais ainda não é recomendada a mamografia — no Brasil, o Ministério da Saúde sugere que o exame seja feito apenas a partir dos 50 anos.

Pedro Souza, oncologista clínico da área de mastologia do Hospital de Câncer de Barretos, lembra que, ainda que haja esta recomendação do governo, diversas sociedades médicas propõem o rastreamento mamográfico dez anos antes, a partir dos 40.

— A maioria dos tumores de mama ocorre em mulheres com mais de 50 anos, entretanto pode ocorrer em mulheres mais jovens. É importante ressaltar que o câncer de mama em mulheres jovens habitualmente tem um comportamento mais agressivo, sendo importante aí a prevenção e diagnóstico precoce.

Nódulos na mama, secreções espontâneas pelo mamilo (sanguinolentas ou amareladas, por exemplo), e coceira na mama ou no mamilo são sintomas aos quais as mulheres devem prestar atenção, bem como mudanças no formato dos seios e na textura da pele.

Maira Caleffi ressalta ainda que as mulheres devem reivindicar que seus médicos ginecologistas realizem, no consultório, o exame de suas mamas.

— O autoexame é muito complicado para qualquer pessoa, porque ela não tem o parâmetro de outras mamas. O médico que deixou de apalpar as clientes tem que voltar a apalpar, o exame da mama tem que ser exigido. Eles confiam em ecografia, em mamografia, e isso está errado. O exame do médico, esse rastreio abaixo dos 40 anos, quem faz isso é o ginecologista. E, caso ele fique com dúvida, deve encaminhar a paciente para o mastologista.

De acordo com o Inca, consumo de álcool, excesso de peso, sedentarismo, tabagismo, envelhecimento, reposição hormonal, exposição à radiação ionizante e alta densidade do tecido mamário (razão entre o tecido glandular e o tecido adiposo da mama) são fatores de risco para o desenvolvimento do câncer de mama.

Embora apenas 10% dos casos sejam decorrentes de fatores hereditários, José Luiz Bevilacqua lembra que, nesta conta, entram não só registros da doença na família materna, mas também na do pai.

— Mulheres com histórico familiar de câncer são pacientes de alto risco. E isso independe do lado da família. É preciso investigar casos de sarcomas, câncer de próstata e de pâncreas, por exemplo, porque eles geram um risco atribuído à mulher.

Atualmente, os tratamentos disponíveis para o câncer de mama, tanto na rede pública quanto na rede privada, são a cirurgia, radioterapia, quimioterapia e hormonioterapia, como explica Pedro Souza.

— O desafio da rede pública é oferecer o diagnóstico precoce, a possibilidade de se iniciar os tratamentos corretos para cada caso em um tempo adequado e a incorporação de novas drogas que aumentam a possibilidade de cura e, nas mulheres com doença mais avançada, trazem ganho de tempo de vida com melhora de qualidade de vida.

Maira reforça que muitas vezes, quando as mulheres conseguem se consultar com um médico, seu câncer já em estado avançado, tudo por conta da burocracia.

— Quando elas chegam, já perderam a chance de se curar. É muito atraso. Mais da metade das mulheres que morrem teriam mais chances se tivessem chegado a tempo. É algo que tem que ser levado mais a sério. Estamos perdendo as chances de curar mais pacientes no Brasil.

Fonte: R7