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O aperfeiçoamento genético pode nos tornar burros?

Geral

27.05.2016

Nenhuma outra espécie no planeta pode se igualar à capacidade de aprender, de solucionar problemas e de comunicação dos humanos, o que nos leva à pergunta: como ficamos tão inteligentes? Um estudo da Universidade de Chicago oferece novas pistas sobre a evolução do cérebro humano, identificando duas variações genéticas ocorridas nos últimos 60 mil anos e que aparentam aumentar o tamanho do cérebro e a capacidade cognitiva. O estudo é apenas uma das últimas evidências de que o cérebro humano, a mais complexa estrutura do Universo conhecido, está ficando cada vez mais competente com o passar do tempo. Mas alguns cientistas estão preocupados que o aperfeiçoamento genético, uma forma de engenharia genética que pode um dia permitir aos pais escolher as características pessoais de seus filhos, possa, ironicamente, impedir a evolução humana. Para compreender essas preocupações, vamos começar por aprender mais sobre como a melhoria genética funciona.
De forma simples, aperfeiçoamento é o processo de modificar a composição genética de um organismo para produzir características pessoais desejadas. Os geneticistas inserem nova informação genética proveitosa para suportar ou substituir inteiramente a informação genética já existente, deixando o recipiente não apenas bem, mas melhor que bem. Os cientistas já usaram o processo para criar o “camundongo Schwarzenegger” (ele passou por rápido desenvolvimento muscular após o procedimento), e, embora aplicar a tecnologia a humanos seja um desafio muito mais complicado, a possibilidade se torna mais próxima da realidade a cada nova descoberta. No final das contas, os pais podem ser capazes de escolher a cor dos olhos e dos cabelos, o tom da pele e até o temperamento de seus filhos. Eles podem até escolher o quão inteligentes seus filhos vão ser, o que torna ainda mais difícil de imaginar que, com o tempo, a melhoria genética possa, na verdade, impedir a capacidade do cérebro de evoluir.
A razão para isso remonta aos princípios fundamentais da evolução. A seleção natural funciona de forma mais eficaz quando uma espécie tem uma grande concentração de genes. Em reação a uma mudança ambiental, variações genéticas proveitosas se tornam mais prevalentes em uma dada espécie. Como nós não temos ideia do que vem por aí, é muito difícil saber quais variações genéticas podem, um dia, se mostrar vantajosas. Um potencial problema do aperfeiçoamento genético é que, em um esforço para promover apenas boas características genéticas pessoais, nós estaríamos suprimindo outras características genéticas que poderiam ser vantajosas mais adiante, encolhendo efetivamente o pool genético humano. Por extensão, o aperfeiçoamento genético poderia suprimir até mesmo a capacidade do cérebro de evoluir.

Por exemplo, médicos podem um dia selecionar embriões para garantir que eles são saudáveis. O processo, conhecido como rastreio pré-natal, já é usado para determinar se um embrião exibe sinais de doenças como síndrome de Down e anemia de célula, mas ele poderia ser usado também para identificar outras anormalidades genéticas – especialmente mutações genéticas – exibidas por um embrião. Mas enquanto a maioria das mutações é, de fato, prejudicial, algumas se mostram úteis em última análise. E essas mutações úteis são uma das forças motoras por trás da capacidade da espécie de evoluir. Consequentemente, se o aperfeiçoamento genético for usado para suprimir as mutações genéticas, poderia impedir a evolução humana no processo. Imagine se as variantes genéticas mencionadas antes, responsáveis por encorajar o desenvolvimento de cérebros maiores, fossem identificadas pelos geneticistas como mutações potencialmente nocivas e prontamente eliminadas do pool genético. Você teria perdido um evento muito importante na evolução humana.
Mas não comece a se preocupar agora se a melhoria genética será a derrocada da raça humana. Por um motivo: a tecnologia por trás da melhoria genética ainda está muito longe de poder ser usada em humanos. Nós somos organismos extraordinariamente complexos, e muitas das nossas características genéticas são controladas por múltiplos genes. Até os geneticistas compreenderem completamente as ramificações da manipulação do nosso material genético, eles simplesmente não vão se arriscar a praticar melhoria genética sem controlar todos os possíveis efeitos colaterais. E mais, questões éticas sobre a melhoria genéticas são abundantes. Uma forte objeção resulta do fato de que o procedimento é certamente caro, assegurando que apenas os abastados poderiam arcar com os custos dos “bebês projetados”. Com o tempo, a sociedade poderia até se dividir entre ricos-geneticamente-melhorados e os pobres-não-melhorados, levando à discriminação e à discórdia social. Claramente, o aperfeiçoamento genético tem uma série de barreiras a vencer antes ter ter qualquer impacto, bom ou ruim, no desenvolvimento da raça humana.