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Tratamento agressivo contra infecções pode dar resultado inverso

Geral

20.10.2014

Doses e resistência bacteriana

Devido ao crescente surgimento de patógenos resistentes aos medicamentos, os médicos estão sempre advertindo e sendo advertidos contra a prescrição excessiva dos antibióticos.

Por outro lado, quando um paciente tem uma infecção bacteriana confirmada, o protocolo médico padrão é tratar de forma agressiva para anular a infecção antes que as bactérias possam desenvolver resistência.

Um novo estudo questiona esse consenso de que o tratamento agressivo, de longa duração e com doses elevadas de medicamentos, seja sempre a melhor maneira de conter o surgimento e a disseminação de patógenos resistentes.

A revisão de cerca de 70 estudos sobre a resistência antimicrobiana, publicada na revista Proceedings of the Royal Society B, revela que não existem evidências que fundamentem a prática do tratamento agressivo em muitos casos.

"Nós descobrimos que, embora existam muitos estudos que testaram a emergência da resistência [bacteriana] entre os diferentes regimes de drogas, surpreendentemente poucos têm olhado para o tema de como variações na dose da droga podem afetar o surgimento e a propagação da resistência," disse a Dra. Ruthie Birger, da Universidade de Princeton (EUA). "Estamos muito longe de ter evidências para as melhores decisões de tratamento com relação à resistência para uma série de doenças."

Tiro pela culatra

Descobrir a dose ideal e a duração do tratamento, que possam curar o paciente sem ajudar a propagação da resistência bacteriana, é algo que deverá ser feito doença por doença, dizem os pesquisadores. Ou seja, não existe uma dosagem que funcione para todos os casos.

Uma possibilidade é que o tratamento moderado possa funcionar melhor quando usado contra micróbios já resistentes para evitar a sua propagação. O tratamento moderado também pode ser melhor para as drogas que estão no mercado há vários anos, com tempo de sobra para o desenvolvimento de cepas resistentes.

Já o tratamento agressivo poderia funcionar melhor para patógenos que desenvolvem resistência lentamente, ao longo de várias mutações. Doses elevadas no início do processo podem acabar induzindo o desenvolvimento da resistência.

Quando o tratamento agressivo não funciona

Os micróbios, como bactérias e parasitas, podem escapar das drogas mais poderosas de hoje passando por mutações genéticas que lhes permitam evitar serem mortos pela droga. Por exemplo, as bactérias podem desenvolver enzimas que degradam certos antibióticos.

A lógica por trás do tratamento agressivo é algo como: matar o maior número de micróbios que você possa para que poucos tenham a chance de evoluir para formas resistentes.

Mas alguns cientistas têm observado um resultado diferente em camundongos infectados com uma estirpe tanto de uma cepa da malária já resistente, quanto de uma cepa não resistente. O tratamento medicamentoso com altas doses matou os parasitas da malária não-resistentes, deixando as cepas resistentes se multiplicarem e piorando o estado de saúde dos animais.

Nesta nova análise, os autores descobriram que a resistência aos medicamentos é regida por dois fatores: a abundância do patógeno e a força da pressão de seleção que leva o patógeno a evoluir.

O tratamento agressivo lida com o primeiro fator matando o maior número possível de patógenos, enquanto o tratamento moderado pode, para alguns agentes patogênicos, reduzir a capacidade de escapar do agente patogênico resistente (por exemplo, ao manter a vantagem competitiva de uma coinfecção de uma cepa do patógeno sensível à droga), além de reduzir os níveis de agentes patogênicos o suficiente para que o paciente possa se recuperar.

Fonte: Diario da saúde